sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

TRANSCRIÇÃO DE TRECHO DA PESQUISA:Estão matando negros no Brasil Leonildo Correa - Instituto OCW Br@sil Trabalho de Sociologia da Violência -- FFLCH-USP -- 2006

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Refazendo as contas se percebe que a morte de negros no Brasil é excessivamente alta, somente sendo baixa na Região Sul (Tabela 8), local onde existem poucos negros e pardos e predomínio completo da população branca.
Estes dados também foram detectados no relatório do PNUD (Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 - Racismo, pobreza e violência) que demonstra que a probabilidade de negros morrerem em confrontos com a polícia é muito maior nas favelas, que são os locais onde o número de mortos é maior. Mas a diferença entre brancos e negros, continua desproporcional quando consideradas outras áreas urbanas.
Além disso, a proporção de pretos, entre as vítimas da violência policial, é três vezes a proporção desse grupo na população como um todo, destaca o relatório do PNUD. O peso desproporcionalmente alto dos negros entre as vítimas mortas nas ações policiais constitui claro indício da existência de viés racista nos aparelhos de repressão, conclui o relatório.
O mesmo relatório afirma ainda que os negros lideram também as estatísticas gerais de assassinatos. Segundo o relatório do PNUD, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes para a população negra (pretos e pardos) é de 46,3 (1,9 vez a dos brancos). Em relação aos brancos e amarelos, a probabilidade de ser assassinado é quase o dobro para os pardos e 2,5 vezes maior para os pretos.
Neste sentido, de acordo com o Professor Sérgio Adorno (1995):
Negros -- homens e mulheres, adultos e crianças -- encontram-se situados nos degraus mais inferiores das hierarquias sociais na sociedade brasileira, como vêm demonstrando inúmeros estudos e pesquisas. A exclusão social é reforçada pelo preconceito e pela estigmatização. No senso comum, cidadãos negros são percebidos como potenciais perturbadores da ordem social, apesar da existência de estudos questionando a suposta maior contribuição dos negros para a crimiminalidade (Sellin, 1928 apud Pires & Landreville, 1985). Não obstante, se o crime não é privilégio da população negra, a punição parece sê-lo.
Ainda de acordo com este Professor:
Preconceitos raciais tendem a estreitar sobremodo suas oportunidades de vida, em especial sua integração ao mercado de trabalho em condições de igualdade de postos e de salários, bem como suas chances sociais de aquisição de graus mais elevados de escolaridade. Nesta pesquisa, pode-se dizer que esta tendência não foi desmentida, haja vista que os réus negros tendem a revelar maior proporção de analfabetos e de desempregados comparativamente aos réus brancos. No entanto, no que concerne às demais características sociais, não há diferenças estatisticamente significativas, de modo que se pode sustentar que ambos os perfis sociais são, na melhor das hipóteses, próximos ou quase idênticos. (ADORNO, 1995).
Mas por que a violência contra o negro é tão acentuada ? De acordo com Leonardo Boff (Sem Data):
O fato cultural que importa conscientizar é o seguinte: durante quatro séculos temos convivido com a escravidão. É um verdadeiro modo de produção, o escravagista. Ele implica a redução do outro a carvão a ser consumido no processo produtivo, rebaixado a peça, a simples escravo, com o senhorio de vida e de morte por parte dos senhores sobre seu destino. Esta anti-realidade social criou nas elites uma subjetividade coletiva altamente perversa. Elas criaram a mentalidade de que o negro, o pobre e o povo em geral nada valem, de que devem ser tratados com violência, porque sempre foi assim, de que, na verdade, não deveriam receber um salário mínimo, pois historicamente sempre estiveram a serviço gratuito dos senhores. Estes entendem o salário mínimo pago a eles como um ato de generosidade e não de justiça. A violência física contra os pobres e negros vem precedida pela violência mental que discrimina, nega o direito de cidadania e não lhes reconhece direitos incondicionais.
Enfim, a meta deste trabalho era mostrar que há uma relação intrínseca entre o homicídio e a cor da vítima. Relação que as tabelas e os gráficos demonstraram de forma cristalina, confirmando os dados apresentados pela pesquisa PNUD da ONU que foi realizada sobre tema.
Além disso, detectou se que os negros (pretos + pardos) são as vítimas predominantes nas regiões norte, nordeste, sudeste e centro-oeste, inclusive os indíces calculados são alarmantes e levam à conclusão de que estão matando negros no Brasil.
A razão da predominância deriva de problemas sociais que estão enraizados na sociedade brasileira, assim como do fato dos negros serem, em sua maioria, pobres e residirem em áreas de risco e de intensa criminalidade, principalmente nas periferias das grandes cidades, assim se tornam alvos fáceis da polícia e de criminosos.
Enfim, há uma relação direta entre homicídios, cor e problema social. Relação esta que deve ser melhor estudada, detalhada e resolvida.
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