domingo, 27 de dezembro de 2009

Transcrição:Raça, racismo e genética: novos parâmetros,velhas práticas políticas?

Velhas práticas políticas
Na opinião de Lúcia Xavier, coordenadora da Organização não Governamental Criola, afirmar que raça não existe é a mesma coisa que dizer que pobreza não existe. “Eu posso dizer que na favela, onde há uma casa com geladeira, televisão, ar condicionado e telefone, é uma casa de classe média. Na verdade, morar na favela, sem esgotamento sanitário, onde as pessoas têm baixa escolaridade e a maioria é negra, não serve como parâmetro para este novo argumento”. Ela questiona a genética ao definir os parâmetros para que determinado grupo social tenha direitos, lembrando que o racismo foi legitimado pela ciência durante a época da escravidão. A teoria científica do racismo ficou conhecida por afirmar que existiam raças inferiores não capazes do desenvolvimento intelectual. Tais raças estariam naturalmente destinadas ao trabalho manual, pois não conseguiam compreender as idéias complexas e avançadas. “Será ele de novo científico, quer dizer, a ciência vai prestar de novo esse papel? O que vale é a genética?”, questiona. Na opinião dela, os argumentos são novos, mas a ação política é antiga. “A genética não determina a prática política, que é feita nas relações sociais”, afirma.
Xavier, da Criola, ainda destaca que a questão colocada pela genética pouco contribui para a formação da consciência crítica da sociedade em um Estado democrático de direito. “As pessoas querem ainda ter a possibilidade de usar a metáfora do: ‘sabem com quem você está falando?’. Elas querem ser cidadãos através dos privilégios e não dos direitos, terem um tipo de conduta política que coloque para elas, o privilégio de poderem ter essas condições para seu próprio beneficio”. Nesse ponto a pesquisadora da Ufes, Adriana Campos, concorda com Xavier: “Tenho dúvidas que as pessoas estejam dispostas a abrir mão de posições consolidadas a respeito do conceito de raça, seja biológico, seja social, em favor de opiniões mais democráticas”.
Na opinião de Ana Maria Oda, pesquisadora da Unicamp, é pouco provável que a constatação do predomínio ameríndio e africano na ascendência materna dos “brancos” possa mudar a auto-imagem dos brasileiros e, ainda menos, evitar preconceitos e atitudes racistas. “Claro que esta é uma constatação empírica válida e que pode ser usada como argumento na defesa da igualdade humana, da mesma forma que se fez uso da defesa da teoria científica do monogenismo, isto é, a ancestralidade comum da espécie humana, hoje inquestionável, no passado. Mas não pode ser o argumento principal, pois a igualdade humana não se assenta em princípios biológicos, mas éticos, e nunca é demais repetir isso” conclui.   
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