domingo, 9 de novembro de 2008

A BUSCA DO ELO PERDIDO

ESPAÇO FISICO DO NÚCLEO POPULACIONAL, CORRESPONDENTE AO EMBRIÃO FORMADOR DE PIQUETE, DESCRITO NO “ROTEIRO DO CAMINHO DE SÃO PAULO PARA AS MINA” DE 1711, COMO SUPORTE PARA FORMAÇÃO DE UMA MEMORIA COLETIVA (1).

O ano de 1711 inicio do Século XVIII, deverá ser mantido como referência legitima a ser comemorado em 2011, como aniversário de 300 (trezentos) anos de celebração da presença do povo afro-descendente nessa paragem chamada Piquete.
No convite a essa iniciativa esta contido a necessidade da busca da própria origem, ou seja, do momento do nascimento. Nascimento este presente nos fazeres e saberes petrificados, herança essa às vezes latente, às vezes jorrando como se fosse possível surgir do nada.
“A sociedade precisa da história como instrumento para encontrar um significado que não lhe é mais inteligível”.(2)
Foucault apontava que (3):
“a história continua é o correlato indispensável à função fundadora do sujeito: a garantia de que tudo que lhe escapou poderá ser devolvido; a certeza de que o tempo nada dispensará sem reconstituí-lo em uma unidade recomposta; a promessa de que o sujeito poderá, um dia – sob a forma da consciência histórica – se apropriar, novamente, de todas essas coisas mantidas a distância pela diferença, restaurar o seu domínio sobre elas e encontrar o que se pode chamar sua morada.
Assim sendo, passados quase 300 (trezentos) anos da noticia de existência de um núcleo populacional é possível afirmar categoricamente que, a solidez do senso de comunidade se faz presente, pois se protraiu no tempo de forma manifesta de um lado, restando latente por outro.
A omissão Histórica não resultou em solução de continuidade da força da tradição, talvez até tenha contribuído para que não sofresse essa comunidade uma aculturação perniciosa, cujas raízes profundas, nem mesmo a globalização impediu que emergisse.
Chegou a ora de contarmos a nossa própria História, para que sejamos reconhecidos como legitimo espaço de memória coletivo.
Por outro lado, torna-se urgente preservar esse espaço, com o objetivo de, a partir de então, os afro-brasileiros de Piquete, se apropriarem dessa herança coletiva e preservar para as futuras gerações.
Todavia este resgate cultural não deve ser apenas para coletar dados do que fora perdido, mas deverá representar a luz do novo sol, ou seja, deve servir de instrumento de mudança contra a secular opressão.
Não sei quantos de meus irmãos negros estarão livres e em condições de não sucumbir as inconseqüentes ameaças, por ousar a levantar contra a usurpação de tal herança, em detrimento dos verdadeiros produtores de uma tradição. Não sendo admissível que, ainda de maneira difusa, não chegue aos verdadeiros beneficiários uma idéia que se propôs chamar “turismo étnico”
Em definitivo, sendo grato aos verdadeiros pesquisadores, colaboradores no resgate da história do povo negro dessa comunidade, os quais conheço muito bem, já é ora de indivíduos que jamais vestiram a camisa em prol dessa causa, deixarem de se arvorar, falando em nome daqueles que nunca os legitimaram para tal. O quilombo vai continuar falando. Até a próxima postagem. FELIZ É O HOMEM, QUE TEM UM LUGAR PARA ONDE VOLTAR, MESMO QUE NUNCA VOLTE”
(1) (Roteiro de viajem no arquivo)
(2) Arévalo, Márcia Conceição da Massena, Lugares de Memória ou Prática de Preservar O Invisível Através do Concreto, texto inicialmente apresentado no I Encontro Memorial do Instituto de Ciências humanas e Sociais-Mariana/MG, 9-12 de novembro de 2004.
(3) FOUCCAUT, Michel. Arquiologia do Saber. Trad. Luiz Baeta Neves 5.º edição. Ria de Janeiro: Forense Universitária, p 15.(citação da articulista)

Nenhum comentário: